Em 1977, quando da saída de Villagrán,
o jornal mexicano “El Universal” publicou uma matéria que explicava as
razões da rusga entre Villagrán e Bolaños. Segundo o periódico, a saída
do Quico deu-se por diferenças criativas. Durante as filmagens de um
episódio piloto, que abriria a temporada de 1978 do programa, Villagrán
teria considerado o conteúdo do programa como “repulsivo”, e deixado a
equipe na seqüência. Contudo, o jornal não dizia qual era o conteúdo do
episódio em questão.
Vilagran, até hoje, recusa-se a comentar esse assunto. Qualquer
entrevista em que seja abordado esse assunto é imediatamente encerrada
pela equipe de assessores de Villagrán.
Supostamente, o jornal teve acesso a uma cópia do roteiro do episódio
em questão, mas não publicou nem mencionou nada acerca de seu conteúdo.
Isso seria fruto de um acordo entre a diretoria do periódico com altos
executivos da Televisa, que desembolsaram uma quantia substancial em
dinheiro para evitar a publicação deste roteiro. É dito que cópias do
tal roteiro sobreviveram, guardadas por funcionários do jornal.
O episódio piloto chegou a ser gravado, e mesmo editado, para
posterior apresentação perante os executivos da Televisa. É dito que
eles teriam ficado horrorizados com o conteúdo. Um diretor de
programação, à época, teria dito que o programa era “absolutamente
impróprio para crianças, e, na verdade, absolutamente impróprio para
qualquer um”.
A gravação original deste episódio foi destruída pela Televisa.
Contudo, uma cópia clandestina foi feita por um funcionário da emissora.
Essa copia teria sido vendida para um colecionador argentino em 1996,
numa transação que teria envolvido algo em torno de 4 mil dólares.
O depoimento a seguir é um compêndio de declarações de alguns
funcionários da Televisa que, à época, foram submetidos à exibição do
programa. Todos eles pediram para não ser identificados. Poucos chegaram
a ver o episódio finalizado e editado, e alguns destes já vieram a
falecer.
“A partir da temporada de 1974, o Chaves foi ganhando destaque na
programação da Televisa, e conseguindo cada vez mais sucesso junto ao
público. Bolaños, porém, artista inquieto que era, queria introduzir
mudanças no programa. Poucos sabem, mas à época, Bolaños fazia planos de
escrever roteiros de mistério e horror, e abandonar os humorísticos.
Durante a temporada de 1975, Bolaños tenta introduzir alguns desses
elementos no ‘Chaves’. Neste ano, vai ao ar o célebre episódio em que
Chaves, Quico e Chiquinha entram na casa de Dona Clotilde, e lá,
descobrem que ela era, de fato, uma bruxa. Originalmente, o roteiro
previa que a incursão deles à casa da bruxa realmente aconteceria, e a
descoberta deles teria implicações em episódios futuros. Executivos da
Televisa interviram, e impuseram o final que foi ao ar: tudo não passava
de um delírio das crianças.
Ainda nesse ano, vai ao ar um episódio em que as travessuras e
trapalhadas de Chaves fazem com que vários moradores da vila comam
insetos embebidos em gasolina. O roteiro original previa um programa
mais sombrio e grotesco, mas novamente foi alterado por diretores da
Televisa.
Nos dois anos seguintes, Bolaños continuou a introduzir elementos
sobrenaturais, de horror ou mistério, nos episódios do Chaves. Episódios
como aquele em que as crianças assistem um filme de terror, e a ‘saga’
dos espíritos zombeteiros são frutos dessa influência de Bolaños.
No início de 1978, Bolaños decidiu mudar radicalmente o programa. O
Chaves, a partir de então, seria um programa de comédia com elementos de
horror, mirando um público mais adulto. Mal comparando, algo semelhante
à série de filmes ‘Evil Dead’. Ele escreveu um episódio piloto nessa
linha, que chegou a ser filmado e exibido aos executivos de programação
da Televisa. A reação foi absolutamente negativa. Os executivos vetaram
terminantemente a mudança de rumo proposta por Bolaños. Carlos
Villagrán, o Quico, ficou tão horrorizado com o resultado final do
episódio que deixou a série.”
A seguir, uma sinopse do conteúdo de tão controverso episódio. Essa
sinopse foi escrita a partir de diversos depoimentos de funcionários da
Televisa que chegaram a ver o programa finalizado e editado, ou que
participaram da gravação, ou mesmo que tiveram acesso ao roteiro.
O episódio começa com Chaves brincando no pátio da vila, indo para lá e
pra cá em um patinete. Quico sai de sua casa, vê Chaves brincando e faz
expressão zangada. Vai até ele, e segura o guidom do patinete com as
duas mãos. Segue-se um diálogo:
-Chaves, quem te deu permissão para mexer nos meus brinquedos?
-É que o patinete estava jogado ali no outro pátio e eu… eu…
Quico fica mais zangado:
-Eu coisa nenhuma Chaves, devolve aqui meu patinete.
Ato contínuo, Quico puxa o patinete bruscamente, derrubando o Chaves.
Quico deixa o patinete no chão e ri escandalosamente. Chaves levanta,
pega do patinete, empunha-o e avança sobre Quico.
-Agora você vai ver só uma coisa, Quico!
Quico corre e grita “Mamãe!”. Neste meio tempo, Seu Madruga sai de sua
casa, e toma o patinete de Chaves, impedindo que ele acerte Quico. Dona
Florinda vem para o pátio, apressadamente.
-Mamãe, ele queria me bater com o patinete!
Dona Florinda dá um tapa em Seu Madruga. Diz:
-Vamos tesouro. Não se junte com essa gentalha.
Volta para dentro. Quico aplica o tradicional “gentalha gentalha” em Seu Madruga, e também volta para sua casa.
Nesse momento, um primeiro plano de Seu Madruga revela que seu nariz
está sangrando. Ele tenta estancar o sangramento, sob o olhar preocupado
de Chaves, mas sem sucesso. Ambas as narinas deitam uma grande
quantidade de sangue, até que Seu Madruga cai no chão do pátio.
Corta para Quico, Chiquinha e Chaves na escada da vila. A iluminação do
cenário sugere ser noite. Os três choram muito. Em Chaves, cada
personagem possui um modo característico de chorar, mas neste momento,
não. Eles choram de forma comum, aos soluços. Esse plano dura
aproximadamente 1 minuto.
Em seguida, chegam o Professor Girafales e Seu Barriga, acompanhados de 2
policiais. Eles dirigem-se à casa de Dona Florinda. O Professor bate na
porta, ninguém atende. Ele chama:
-Dona Florinda, abra a porta por favor.
Não há resposta. O professor abre a porta, os policiais entram, e saem
com Dona Florinda algemada. Seu rosto exibe uma imensa apatia enquanto
os policiais a levam. Quico, ao ver sua mãe sendo levada, desespera-se:
tenta atacar os policiais, mas é contido por Seu Barriga. Dona Florinda
nem parece tomar conhecimento da situação, mantendo sempre a expressão
apática e o olhar vazio. Quico, seguro por Seu Barriga, chora muito e
balbucia “mamãe” algumas vezes. Depois que os policiais deixam a vila,
levando Dona Florinda, Seu Barriga tenta consolar Quico, mas ele corre
para casa.
Segue-se um diálogo entre Seu Barriga e Professor Girafales:
- Que tragédia horrível tivemos aqui, Senhor Barriga.
- É verdade professor. Eu devia ter previsto que isso acabaria acontecendo.
- Qual foi a causa da morte?
- Seu Madruga foi boxeador na juventude. Os socos que ele levava
causaram um afundamento no crânio. O tapa que a Dona Florinda deu hoje
causou um traumatismo bem nessa região. Ele teve uma hemorragia cerebral
e não resistiu.
-Uma tragédia horrível, Senhor Barriga!
-Sim.
-Quem cuidará dos preparativos do funeral?
-Eu cuido de tudo Professor. Não se preocupe. O senhor vai ficar aqui com as crianças?
-Sim, naturalmente.
Seu Barriga deixa a vila. Professor Girafales entra na casa de Dona Florinda.
Chiquinha e Chaves continuam sentados na escada. Agora, pararam de chorar, apenas olham fixamente para o vazio.
Dona Clotilde sai de sua casa e vem em direção às crianças. Ela usa
uma roupa diferente do que costumamos ver, uma espécie de roupão preto
com vários símbolos bordados em vermelho e roxo.
Nesse momento, os depoimentos são contraditórios. Há quem afirme que
Dona Clotilde traz consigo um livro semelhante à uma Bíblia. Outros
dizem que a fita falha quando ela aparece, e só volta ao normal num
momento mais avançado do episódio. Uma fonte descreve que Dona Clotilde
vai até a escada e conversa, aos cochichos, com Chiquinha.
O que é consenso é o conteúdo que vem na seqüência. O pátio da vila
está vazio, a iluminação é mais tênue do que na seqüência anterior,
provavelmente sugerindo que a noite está mais avançada. Uma panorâmica
pelo cenário mostra as escadas vazias, em seguida o centro do pátio,
onde está desenhado um grande pentagrama vermelho; e em seguida
Chiquinha sentada à porta de sua casa, abraçando os joelhos. Seus pulsos
estão enfaixados, e as bandagens sujas de algo que parece ser sangue.
Então, começa a ventar no pátio. Ouvimos um estrondo, é a porta da
frente se abrindo. Corta para um reaction shot de Chiquinha: seus olhos
estão arregalados, sua boca entreaberta, uma expressão de puro horror.
Ouvimos o som de algo pegajoso. Nunca é possível ver claramente o que ou
quem entrou no pátio, mas planos breves, de no máximo 1 segundo,
mostram uma figura magra, enrolada num pano branco, deixando atrás de si
um rastro de uma substância pegajosa, aparentemente negra.
A figura aproxima-se. Novo reaction shot de Chiquinha: agora ela sorri.
A partir daí, os depoimentos novamente tornam-se contraditórios. Há quem
afirme que a fita só apresentava estática depois dessa cena. Outros
afirmam que não, mas não souberam dizer o que acontecia depois. Outros
preferiram apenas não dizer nada.
O que é certo é que o episódio teve péssima recepção junto aos
executivos da Televisa, e que Carlos Villagrán deixou o programa em
seguida. Supostamente, uma cópia do episódio existe no acervo de um
colecionador argentino, mas, procurado para este trabalho, ele negou
veemente possuí-la, e pediu para não ter o nome divulgado.
Diz-se que Bolaños pretendia desdobrar os acontecimentos desse
episódio ao longo daquela temporada do Chaves. Não se sabe exatamente o
que ele tinha em mente, mas funcionários da Televisa que tiveram acesso à
fragmentos do conteúdo, por meio de anotações que Bolaños fazia em seus
cadernos; ou mesmo em conversas com o Chesperito, dizem tratar-se de um
material absolutamente sombrio e perturbador, obviamente inadequado
para um humorístico infantil.
O conteúdo desses fragmentos, porém, permanece desconhecido.
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o jornal mexicano “El Universal” publicou uma matéria que explicava as
razões da rusga entre Villagrán e Bolaños. Segundo o periódico, a saída
do Quico deu-se por diferenças criativas. Durante as filmagens de um
episódio piloto, que abriria a temporada de 1978 do programa, Villagrán
teria considerado o conteúdo do programa como “repulsivo”, e deixado a
equipe na seqüência. Contudo, o jornal não dizia qual era o conteúdo do
episódio em questão.
Vilagran, até hoje, recusa-se a comentar esse assunto. Qualquer
entrevista em que seja abordado esse assunto é imediatamente encerrada
pela equipe de assessores de Villagrán.
Supostamente, o jornal teve acesso a uma cópia do roteiro do episódio
em questão, mas não publicou nem mencionou nada acerca de seu conteúdo.
Isso seria fruto de um acordo entre a diretoria do periódico com altos
executivos da Televisa, que desembolsaram uma quantia substancial em
dinheiro para evitar a publicação deste roteiro. É dito que cópias do
tal roteiro sobreviveram, guardadas por funcionários do jornal.
O episódio piloto chegou a ser gravado, e mesmo editado, para
posterior apresentação perante os executivos da Televisa. É dito que
eles teriam ficado horrorizados com o conteúdo. Um diretor de
programação, à época, teria dito que o programa era “absolutamente
impróprio para crianças, e, na verdade, absolutamente impróprio para
qualquer um”.
A gravação original deste episódio foi destruída pela Televisa.
Contudo, uma cópia clandestina foi feita por um funcionário da emissora.
Essa copia teria sido vendida para um colecionador argentino em 1996,
numa transação que teria envolvido algo em torno de 4 mil dólares.
O depoimento a seguir é um compêndio de declarações de alguns
funcionários da Televisa que, à época, foram submetidos à exibição do
programa. Todos eles pediram para não ser identificados. Poucos chegaram
a ver o episódio finalizado e editado, e alguns destes já vieram a
falecer.
“A partir da temporada de 1974, o Chaves foi ganhando destaque na
programação da Televisa, e conseguindo cada vez mais sucesso junto ao
público. Bolaños, porém, artista inquieto que era, queria introduzir
mudanças no programa. Poucos sabem, mas à época, Bolaños fazia planos de
escrever roteiros de mistério e horror, e abandonar os humorísticos.
Durante a temporada de 1975, Bolaños tenta introduzir alguns desses
elementos no ‘Chaves’. Neste ano, vai ao ar o célebre episódio em que
Chaves, Quico e Chiquinha entram na casa de Dona Clotilde, e lá,
descobrem que ela era, de fato, uma bruxa. Originalmente, o roteiro
previa que a incursão deles à casa da bruxa realmente aconteceria, e a
descoberta deles teria implicações em episódios futuros. Executivos da
Televisa interviram, e impuseram o final que foi ao ar: tudo não passava
de um delírio das crianças.
Ainda nesse ano, vai ao ar um episódio em que as travessuras e
trapalhadas de Chaves fazem com que vários moradores da vila comam
insetos embebidos em gasolina. O roteiro original previa um programa
mais sombrio e grotesco, mas novamente foi alterado por diretores da
Televisa.
Nos dois anos seguintes, Bolaños continuou a introduzir elementos
sobrenaturais, de horror ou mistério, nos episódios do Chaves. Episódios
como aquele em que as crianças assistem um filme de terror, e a ‘saga’
dos espíritos zombeteiros são frutos dessa influência de Bolaños.
No início de 1978, Bolaños decidiu mudar radicalmente o programa. O
Chaves, a partir de então, seria um programa de comédia com elementos de
horror, mirando um público mais adulto. Mal comparando, algo semelhante
à série de filmes ‘Evil Dead’. Ele escreveu um episódio piloto nessa
linha, que chegou a ser filmado e exibido aos executivos de programação
da Televisa. A reação foi absolutamente negativa. Os executivos vetaram
terminantemente a mudança de rumo proposta por Bolaños. Carlos
Villagrán, o Quico, ficou tão horrorizado com o resultado final do
episódio que deixou a série.”
A seguir, uma sinopse do conteúdo de tão controverso episódio. Essa
sinopse foi escrita a partir de diversos depoimentos de funcionários da
Televisa que chegaram a ver o programa finalizado e editado, ou que
participaram da gravação, ou mesmo que tiveram acesso ao roteiro.
O episódio começa com Chaves brincando no pátio da vila, indo para lá e
pra cá em um patinete. Quico sai de sua casa, vê Chaves brincando e faz
expressão zangada. Vai até ele, e segura o guidom do patinete com as
duas mãos. Segue-se um diálogo:
-Chaves, quem te deu permissão para mexer nos meus brinquedos?
-É que o patinete estava jogado ali no outro pátio e eu… eu…
Quico fica mais zangado:
-Eu coisa nenhuma Chaves, devolve aqui meu patinete.
Ato contínuo, Quico puxa o patinete bruscamente, derrubando o Chaves.
Quico deixa o patinete no chão e ri escandalosamente. Chaves levanta,
pega do patinete, empunha-o e avança sobre Quico.
-Agora você vai ver só uma coisa, Quico!
Quico corre e grita “Mamãe!”. Neste meio tempo, Seu Madruga sai de sua
casa, e toma o patinete de Chaves, impedindo que ele acerte Quico. Dona
Florinda vem para o pátio, apressadamente.
-Mamãe, ele queria me bater com o patinete!
Dona Florinda dá um tapa em Seu Madruga. Diz:
-Vamos tesouro. Não se junte com essa gentalha.
Volta para dentro. Quico aplica o tradicional “gentalha gentalha” em Seu Madruga, e também volta para sua casa.
Nesse momento, um primeiro plano de Seu Madruga revela que seu nariz
está sangrando. Ele tenta estancar o sangramento, sob o olhar preocupado
de Chaves, mas sem sucesso. Ambas as narinas deitam uma grande
quantidade de sangue, até que Seu Madruga cai no chão do pátio.
Corta para Quico, Chiquinha e Chaves na escada da vila. A iluminação do
cenário sugere ser noite. Os três choram muito. Em Chaves, cada
personagem possui um modo característico de chorar, mas neste momento,
não. Eles choram de forma comum, aos soluços. Esse plano dura
aproximadamente 1 minuto.
Em seguida, chegam o Professor Girafales e Seu Barriga, acompanhados de 2
policiais. Eles dirigem-se à casa de Dona Florinda. O Professor bate na
porta, ninguém atende. Ele chama:
-Dona Florinda, abra a porta por favor.
Não há resposta. O professor abre a porta, os policiais entram, e saem
com Dona Florinda algemada. Seu rosto exibe uma imensa apatia enquanto
os policiais a levam. Quico, ao ver sua mãe sendo levada, desespera-se:
tenta atacar os policiais, mas é contido por Seu Barriga. Dona Florinda
nem parece tomar conhecimento da situação, mantendo sempre a expressão
apática e o olhar vazio. Quico, seguro por Seu Barriga, chora muito e
balbucia “mamãe” algumas vezes. Depois que os policiais deixam a vila,
levando Dona Florinda, Seu Barriga tenta consolar Quico, mas ele corre
para casa.
Segue-se um diálogo entre Seu Barriga e Professor Girafales:
- Que tragédia horrível tivemos aqui, Senhor Barriga.
- É verdade professor. Eu devia ter previsto que isso acabaria acontecendo.
- Qual foi a causa da morte?
- Seu Madruga foi boxeador na juventude. Os socos que ele levava
causaram um afundamento no crânio. O tapa que a Dona Florinda deu hoje
causou um traumatismo bem nessa região. Ele teve uma hemorragia cerebral
e não resistiu.
-Uma tragédia horrível, Senhor Barriga!
-Sim.
-Quem cuidará dos preparativos do funeral?
-Eu cuido de tudo Professor. Não se preocupe. O senhor vai ficar aqui com as crianças?
-Sim, naturalmente.
Seu Barriga deixa a vila. Professor Girafales entra na casa de Dona Florinda.
Chiquinha e Chaves continuam sentados na escada. Agora, pararam de chorar, apenas olham fixamente para o vazio.
Dona Clotilde sai de sua casa e vem em direção às crianças. Ela usa
uma roupa diferente do que costumamos ver, uma espécie de roupão preto
com vários símbolos bordados em vermelho e roxo.
Nesse momento, os depoimentos são contraditórios. Há quem afirme que
Dona Clotilde traz consigo um livro semelhante à uma Bíblia. Outros
dizem que a fita falha quando ela aparece, e só volta ao normal num
momento mais avançado do episódio. Uma fonte descreve que Dona Clotilde
vai até a escada e conversa, aos cochichos, com Chiquinha.
O que é consenso é o conteúdo que vem na seqüência. O pátio da vila
está vazio, a iluminação é mais tênue do que na seqüência anterior,
provavelmente sugerindo que a noite está mais avançada. Uma panorâmica
pelo cenário mostra as escadas vazias, em seguida o centro do pátio,
onde está desenhado um grande pentagrama vermelho; e em seguida
Chiquinha sentada à porta de sua casa, abraçando os joelhos. Seus pulsos
estão enfaixados, e as bandagens sujas de algo que parece ser sangue.
Então, começa a ventar no pátio. Ouvimos um estrondo, é a porta da
frente se abrindo. Corta para um reaction shot de Chiquinha: seus olhos
estão arregalados, sua boca entreaberta, uma expressão de puro horror.
Ouvimos o som de algo pegajoso. Nunca é possível ver claramente o que ou
quem entrou no pátio, mas planos breves, de no máximo 1 segundo,
mostram uma figura magra, enrolada num pano branco, deixando atrás de si
um rastro de uma substância pegajosa, aparentemente negra.
A figura aproxima-se. Novo reaction shot de Chiquinha: agora ela sorri.
A partir daí, os depoimentos novamente tornam-se contraditórios. Há quem
afirme que a fita só apresentava estática depois dessa cena. Outros
afirmam que não, mas não souberam dizer o que acontecia depois. Outros
preferiram apenas não dizer nada.
O que é certo é que o episódio teve péssima recepção junto aos
executivos da Televisa, e que Carlos Villagrán deixou o programa em
seguida. Supostamente, uma cópia do episódio existe no acervo de um
colecionador argentino, mas, procurado para este trabalho, ele negou
veemente possuí-la, e pediu para não ter o nome divulgado.
Diz-se que Bolaños pretendia desdobrar os acontecimentos desse
episódio ao longo daquela temporada do Chaves. Não se sabe exatamente o
que ele tinha em mente, mas funcionários da Televisa que tiveram acesso à
fragmentos do conteúdo, por meio de anotações que Bolaños fazia em seus
cadernos; ou mesmo em conversas com o Chesperito, dizem tratar-se de um
material absolutamente sombrio e perturbador, obviamente inadequado
para um humorístico infantil.
O conteúdo desses fragmentos, porém, permanece desconhecido.
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