Ontem fui acordado pelos gritos da mulher que vive na casa ao lado da minha. Seu nome é Maria das Dores, uma velha de cinquenta e seis anos que até um tempo atrás tinha fama de ser feiticeira.
E era mesmo, cheguei a ouvir muitos relatos da tal bruxa, assim como observar um grande fluxo de visitas que a mesma recebia na época em que ainda fazia seus trabalhos com o oculto. Mas a poucos meses atrás a vida de Maria das Dores mudou completamente. Ela conheceu sua salvação, aquilo que lhe tirou do caminho sombrio, a igreja evangélica, é mole?
A partir daí foi questão de dias para que toda a rotina daquela velha que só vivia dentro de casa e que tinha sempre a mesma expressão macabra no rosto mudasse. Mas a aceitação por grande parte da comunidade não aconteceu assim tão facilmente, demorou pelo menos um mês para que a Ex-bruxa se tornasse uma crente, fiel e "pura". Pura, essa não foi uma palavra boa, mas foda-se, o ponto em questão é que a interação entre os "irmãos" e a tal macumbeira demorou um pouco, mas aconteceu.
Já dizia minha falecida avó:
"Você pode largar o mal, mas o mal nunca largará você."
Para mim essa frase não faz muito sentido, sério, até por que sempre fui meio cético em relação a maioria das coisas. Só que para a situação dessa estória, essas palavras se aplicam, até por que é através dessa frase que se realizará o nosso desfecho.
Sim, o mal não largou minha vizinha e foi por isso que ontem, as três da madrugada ela estava gritando como uma louca. Gritava pedindo ajuda, gritava pedindo a Deus que lhe salvasse.
Não foi Deus quem lhe salvou e sim eu. Sim, eu mesmo! Levantei puto, pois precisava acordar cedo. Vesti meus chinelos e sai para rua, caminhei em direção ao portão da velha e fui entrando. Não havia por que pedir licença.
Foi preciso arrombar a maldita porta e depois disso encontrar o quarto da velha. Quando lá cheguei a mesma estava estirada na cama, um cobertor cobria quase todo seu corpo. Seus olhos estavam arregalados e a cara pálida como mármore.
- Que merda é essa dona Maria! Gritei ao ver que não havia nada no quarto.
- Me salva Yuri! Ele disse que vai me matar! Disse que vai beber todo meu sangue.
- Ele quem? Não tem ninguém aqui! Agora para com a gritaria que você está acordando a vila inteira!
Como podem notar eu não tive muita paciência. Mas era o efeito do sono inacabado, era sim. Geralmente sou simpático e tranquilo.
Segui em direção a velha e a peguei pela mão. Respirei fundo e tentei acalmar a apavorada Maria.
- Está tudo bem mesmo, olha não tem nada aqui.
- Ele está ali, veja, no teto! Gritou me agarrando.
Olhei para o forro, lá não havia nada. A velha só podia estar ficando doida.
Foi então que ela berrou:
- Eu juro por Deus, veja, aquele demônio não sai dali, acordei no meio da noite e o desgraçado estava me observando! Eu não trabalho mais para ele, agora pertenço ao Senhor, meu sangue é de Jesus e não do inimigo!
Olhei novamente, o teto vazio não me dizia nada, mas as palavras da ex-bruxa causaram efeito em minha cabeça. Lembrei-me das estórias sobre seus rituais que a vila toda contava, lembrei das luzes estranhas que eu via saindo durante as madrugadas pelas janelas, dos comentários sobre a mesma ter vendido a alma para o diabo e então por poucos segundos eu vi, parado naquele teto um imenso morcego marrom. O bicho pendia pendurado de cabeça para baixo, seu pescoço parecia estar contorcido, mas o rosto nos encarava. Seus olhos eram vermelhos e os dois dentes que se destacavam em sua boca amarelos.
Então pisquei e a fera desapareceu, o teto estava novamente vazio. Mas de alguma forma eu ainda conseguia sentir a presença de algo mais.
Soltei a velha e sai correndo dali, ela que ficasse com seus tormentos, com seus demônios.
Voltei para casa e fui direto para minha cama, dormi repetindo que aquilo fora apenas uma alucinação e que não existia mais nada além do que o homem criou. No fim das contas, logo pela manhã quando acordei e fitei meu quarto vazio, tive a impressão de não estar sozinho. Meu dia seguiu meio diferente e por várias vezes me vi encarando o nada, fitando essa curiosa realidade que nos cerca.
Sei que a visão da noite anterior foi a responsável por essa repentina mudança na minha forma de encarar as coisas e deixo um alerta para aqueles que acham que os monstros não existem.
Eles só não existem se você não acreditar neles. Pense nisso...
E era mesmo, cheguei a ouvir muitos relatos da tal bruxa, assim como observar um grande fluxo de visitas que a mesma recebia na época em que ainda fazia seus trabalhos com o oculto. Mas a poucos meses atrás a vida de Maria das Dores mudou completamente. Ela conheceu sua salvação, aquilo que lhe tirou do caminho sombrio, a igreja evangélica, é mole?
A partir daí foi questão de dias para que toda a rotina daquela velha que só vivia dentro de casa e que tinha sempre a mesma expressão macabra no rosto mudasse. Mas a aceitação por grande parte da comunidade não aconteceu assim tão facilmente, demorou pelo menos um mês para que a Ex-bruxa se tornasse uma crente, fiel e "pura". Pura, essa não foi uma palavra boa, mas foda-se, o ponto em questão é que a interação entre os "irmãos" e a tal macumbeira demorou um pouco, mas aconteceu.
Já dizia minha falecida avó:
"Você pode largar o mal, mas o mal nunca largará você."
Para mim essa frase não faz muito sentido, sério, até por que sempre fui meio cético em relação a maioria das coisas. Só que para a situação dessa estória, essas palavras se aplicam, até por que é através dessa frase que se realizará o nosso desfecho.
Sim, o mal não largou minha vizinha e foi por isso que ontem, as três da madrugada ela estava gritando como uma louca. Gritava pedindo ajuda, gritava pedindo a Deus que lhe salvasse.
Não foi Deus quem lhe salvou e sim eu. Sim, eu mesmo! Levantei puto, pois precisava acordar cedo. Vesti meus chinelos e sai para rua, caminhei em direção ao portão da velha e fui entrando. Não havia por que pedir licença.
Foi preciso arrombar a maldita porta e depois disso encontrar o quarto da velha. Quando lá cheguei a mesma estava estirada na cama, um cobertor cobria quase todo seu corpo. Seus olhos estavam arregalados e a cara pálida como mármore.
- Que merda é essa dona Maria! Gritei ao ver que não havia nada no quarto.
- Me salva Yuri! Ele disse que vai me matar! Disse que vai beber todo meu sangue.
- Ele quem? Não tem ninguém aqui! Agora para com a gritaria que você está acordando a vila inteira!
Como podem notar eu não tive muita paciência. Mas era o efeito do sono inacabado, era sim. Geralmente sou simpático e tranquilo.
Segui em direção a velha e a peguei pela mão. Respirei fundo e tentei acalmar a apavorada Maria.
- Está tudo bem mesmo, olha não tem nada aqui.
- Ele está ali, veja, no teto! Gritou me agarrando.
Olhei para o forro, lá não havia nada. A velha só podia estar ficando doida.
Foi então que ela berrou:
- Eu juro por Deus, veja, aquele demônio não sai dali, acordei no meio da noite e o desgraçado estava me observando! Eu não trabalho mais para ele, agora pertenço ao Senhor, meu sangue é de Jesus e não do inimigo!
Olhei novamente, o teto vazio não me dizia nada, mas as palavras da ex-bruxa causaram efeito em minha cabeça. Lembrei-me das estórias sobre seus rituais que a vila toda contava, lembrei das luzes estranhas que eu via saindo durante as madrugadas pelas janelas, dos comentários sobre a mesma ter vendido a alma para o diabo e então por poucos segundos eu vi, parado naquele teto um imenso morcego marrom. O bicho pendia pendurado de cabeça para baixo, seu pescoço parecia estar contorcido, mas o rosto nos encarava. Seus olhos eram vermelhos e os dois dentes que se destacavam em sua boca amarelos.
Então pisquei e a fera desapareceu, o teto estava novamente vazio. Mas de alguma forma eu ainda conseguia sentir a presença de algo mais.
Soltei a velha e sai correndo dali, ela que ficasse com seus tormentos, com seus demônios.
Voltei para casa e fui direto para minha cama, dormi repetindo que aquilo fora apenas uma alucinação e que não existia mais nada além do que o homem criou. No fim das contas, logo pela manhã quando acordei e fitei meu quarto vazio, tive a impressão de não estar sozinho. Meu dia seguiu meio diferente e por várias vezes me vi encarando o nada, fitando essa curiosa realidade que nos cerca.
Sei que a visão da noite anterior foi a responsável por essa repentina mudança na minha forma de encarar as coisas e deixo um alerta para aqueles que acham que os monstros não existem.
Eles só não existem se você não acreditar neles. Pense nisso...