Terra maldita

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    Não pense no amanhã(ótima Creepy na minha opinião)

    JasonFuckYou?
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    Não pense no amanhã(ótima Creepy na minha opinião) Empty Não pense no amanhã(ótima Creepy na minha opinião)

    Mensagem por JasonFuckYou? Seg Nov 19, 2012 6:03 pm

    Faz mais ou menos vinte anos desde aquela conversa que mudaria minha vida. Vinte anos desde que aquele menino veio até mim em meu escritório e me contou a, provavelmente, mais incrível história que eu já ouvi na vida toda. É claro que não acreditei na época, mas agora, após tantos anos, após a vida que levei desde aquela conversa, não consigo se não pensar naquele dia com arrependimento, culpa e agora finalmente medo.

    Eu era diretora em uma escola primária de Northamptonshire, e me faltavam seis anos para aposentadoria. Um menino chamado Chris foi mandado ao meu escritório por ter trancado outras crianças em uma sala que era usada para guardar material das aulas de ciências dadas na escola. Eu o conhecia, ele era um bom estudante; uma vez apresentou um trabalho em uma reunião escolar. Ele sempre pareceu muito brilhante e tímido. Não naquele dia. Ele estava fazendo uma grande confusão sobre ser mandado a mim, eu me lembro.

    "Não está certo, não está certo" ele repetia de novo e de novo, ao que sua professora, Judy, praticamente o arrastava até meu escritório e me explicava a situação. Ela então saiu e voltou para a aula. Lembro de me sentar silenciosamente atrás de minha mesa olhando para ele, o olhar severo que guardava para tais situações. De novo e de novo ele disse:

    "Não está certo; não deveria ser assim."

    Ele parecia estranho; em pânico e com raiva, mas não do jeito que se esperava uma criança de dez anos estar ao ser mandada para a sala da diretoria. Seus olhos se jogavam para frente e para trás, como os meus faziam muitas vezes quando pensava rápido. Eventualmente eu finalmente falei.

    "Christopher. Isso é muito desapontador."

    Eu sempre usava o nome completo quando estava dando uma lição a uma criança. Soa tão mais sério. Ele deu pouca atenção, repetindo as mesmas palavras, olhando para aqui e para lá, parecendo extremamente confuso.

    "Christopher. Christopher. Olhe para mim quando eu estiver falando. Christopher!"

    Eu lembro de ter elevado minha voz a quase um grito essa última vez, algo que raramente fazia. Seus olhos escorregaram aos meus ao que ele se silenciou. Esperei vê-los lacrimejar, só de pensar em fazer uma criança chorar, comecei com meu tom suave de novo:

    "É desapontador ver você sendo mandado aqui e-"

    "Olha, algo deu errado em algum lugar. Não deveria acontecer assim."

    Estava chocada em ter sido interrompida, mas o que me surpreendeu, o que me deixou sem fala por alguns momentos enquanto ele continuava, foi sua maneira de falar. Sua voz era de um jovem menino, com certeza, mas como se estivesse sobre o controle de alguém mais velho. Sua pronúncia era clara e precisa, e seu tom de algum jeito era maduro e sério.

    "Só preciso pensar por um momento, posso resolver isso. Só preciso pensar."

    Seus olhos voltaram a se mexer rapidamente. Recuperei minha voz.

    "Esperava que me escutasse quando eu falasse com você, meu rapaz. Não me interrompa enquanto eu estiver falando."

    Então seus olhos entraram nos meus de novo e ele falou, antes que eu pudesse continuar, de novo.

    "Claro, claro, tudo bem. Olha, só preciso de cinco minutos para falar, tudo bem? Cinco minutos, tudo que estou pedindo."

    Não tenho certeza do que o que me fez fazer aquilo, mas talvez só a particularidade da situação toda até agora. Recostei-me, peguei meu cachimbo e comecei a enche-lo de tabaco, ao que ainda era permitido fumar em ambientes fechados nessa parte da Inglaterra.

    "Cinco minutos."

    Acendi meu cachimbo e gesticulei para que ele se sentasse na cadeira de frente para minha mesa, e foi o que ele fez. Deixei-o falar.

    "Tudo bem, ah.. Eu... Eu já estive aqui antes! Bem, não nessa situação, mas nessa escola, eu já passei por isso antes. Eu... você já viu ou ouviu falar do filme Feitiço do Tempo? Aquele em que o cara vive o mesmo dia de novo e de novo..?"

    Balancei minha cabeça.

    "Então, bem... já pensou em voltar no tempo, a um ponto antigo, mas como você é agora? Viajar de volta no tempo para refazer parte de sua vida com o conhecimento que você tem agora? Bem... isso aconteceu comigo. O problema... o problema é que eu não consigo controlar, eu não consigo parar isso."

    Ele se recostou mais em sua cadeira, seu rosto se tornou sinistro e ele olhou pela janela ao fim da sala.

    "Eu vivo uma vida normal até meus trinta anos, então acordo de novo como uma criança de quatro anos, de volta na casa onde eu não vivia a vinte e quatro anos. Parece legal, ser jovem de novo, voltar e fazer as coisas melhor... mas é um pesadelo. A primeira vez, eu esbanjei, fui Doutor em psicologia antes de voltar, podia fazer matemática avançada, citar Shakespeare, tocar piano; era divertido. Eu era um prodígio. Mas toda a atenção se virou para mim, e toda foi tirada do meu irmão mais novo. Ele não era o mesmo irmão que eu conhecia antes. E o que era pior-"

    Pela primeira vez vi seus olhos lacrimejarem e sua voz começar a fraquejar.

    "Com tanto tempo e esforço colocados em mim, meus pais sequer tiveram mais filhos. Tive ainda outro irmão e outra irmã, e de repente eles não existiam mais, e tudo por minha culpa. Tentei contar as pessoas o que estava acontecendo, mas era difícil de provar. Contava a eles resultados de jogos que não haviam ocorrido ainda, e falava de desastres naturais. Quando se tornava óbvio que minhas previsões eram corretas, eu era levado embora para estudos. Jogado em uma cela branca acolchoada.Não pode imaginar como podem ser longos vinte anos em uma cela acolchoada.

    Ele se silenciou por um momento, olhando cegamente pela janela, então trouxe seus olhos de volta a mim.

    "Mas então aconteceu de novo. Acordei vinte e seis anos mais novo na casa dos meus pais. Nessa segunda vez meus pais tinham mais dois filhos, mas eles não eram o irmão e irmã que eu deveria ter. Era diferentes, e os outros se foram. Agora se eu tentar trazer os primeiros de volta, eu estarei acabando com a existência desses dois. Não pode imaginar a culpa..."

    Ele se levantou, andou e procurou por algo na mesa, então olhou-me, para ter certeza de que podia me ver.

    "Agora eu preciso de sua ajuda. Essa é minha vigésima vez. Acho que posso fazer certo, talvez se eu mantiver tudo do jeito que deve ser, talvez funcione. Talvez eu não precise continuar fazendo isso. Eu não deveria ser mandado para aqui, você não pode falar disso para minha mãe, olha-"

    Ele pegou um pedaço de papel e uma caneta e começou a escrever algo. Ele me deu após um momento. Me esqueci o que ele escreveu exatamente; alguma extremamente complexa prova matemática de que tudo era verdade.

    "Ninguém com dez anos deveria saber disso..."

    Ele pegou outra folha e começou a escrever furiosamente de novo. Nomes, datas, eventos, e passou para minha mão.

    "Sei que pode soar louco agora, mas olhe, apenas olhe. Essas são todas grandes coisas que ainda acontecerão, você verá, leve com você. Aposte nos resultados, ganhe um dinheiro. Mas por favor, não interfira agora, ou de novo. Você não deveria estar envolvida nisso."

    Lembro somente de um pouco da conversa após aquilo. Era ridículo, tudo o que ele estava dizendo, como eu poderia acreditar em algo. Disse a ele para parar de falar tanta besteira e mandei-o de volta para sua sala. Chamei sua mãe para vir buscá-lo e disse a ela sobre seu mal comportamento e sua estranha explosão. Mantive a lista comigo, de qualquer jeito. Não sei porque, mas mantive mesmo assim. Seguramente guardada em meu escritório em minha casa.

    Li em um jornal anos mais tarde que Chris havia se matado, mas ou menos quando seu segundo irmão ia nascer. Descobri depois que sua mãe enlouqueceu. Me preocupo se não foi minha culpa. Talvez se eu não houvesse feito como ele me disse as coisas haveriam ocorrido de modo diferente. Sabe-se lá que efeitos aquela conversa com ela houveram.

    Agora é tarde no dia 21 de Julho de 2017, um dia antes de Chris fazer 30. Tudo que foi escrito furiosamente naquele dia nessa lista aconteceu. Vitórias em Copas do Mundo, Furacões, o 11 de setembro, tudo como ele escreveu.

    Mas meus pensamentos se viram para amanhã. O que vai ser mim? E de minha filha? E dos meus netos? Se tudo voltar e eu puder viver tudo de novo, para onde nós iremos? Continuamos sem ele? Ou nunca acordaremos; só desapareceremos?

    Eu vivi uma grande vida e fiz muitas grandes coisas, mas nada me assombra mais do que aquela conversa naquele dia, nada me faz sentir mais sem forças do que aquilo. Se nós realmente começarmos de novo, espero escutá-lo na próxima vez.

      Data/hora atual: Dom Abr 28, 2024 5:49 am